Há uns tempos atrás recebi uma senhora que, possivelmente, nunca irei esquecer.
Esta consultante tinha mais de 70 anos, mas muito bem conservada, muito lúcida, e ela estava sozinha - após um difícil divórcio -, há tantos anos quanto eu tenho de idade, 38; divorciou-se em 1970! Parece que nessa altura decidiu ficar sozinha porque deixou de acreditar nos homens e nas relações afectivas. Hoje, esta senhora, apercebeu-se do tremendo erro e arrepende-se da opção. Hoje, com 70 anos, ela quer encontrar um companheiro, alguém com quem dividir e partilhar a vida.
Aquele relato foi para mim um murro no estômago, um despertar quase violento, do género: Vê lá como estás a gerir a tua vida pessoal!
Muito na sequência do último post a pergunta que se impõe a mim e a todos os que lêem este blog é: Temos parado para pensar naquele que é o sector mais importante da nossa vida? Temos dado o devido valor ao Amor? Temos sabido gerir as boas e más relações? Os tristes finais? Temos perdoado quem nos feriu? Temos libertado aqueles que optaram por outros caminhos? Mas mais relevante, estamos de bem com o Amor? Estamos de bem connosco, com a nossa consciência?
Misturamos “alhos com bugalhos”, temos a mente doente de tanta confusão! Estragamos sentimentos puros com questões insignificantes, com ninharias, com ciúmes, com inseguranças, com memórias do passado, com… é infindável o rol de asneiras que fazemos. E no fim, a verdade é que não somos felizes nem acompanhados nem sozinhos.
Este é um das minha bandeiras, até tenho medo de cansar com o mesmo discurso, mas… e se deixássemos de ser mariquinhas e vivêssemos com bastante mais intensidade? O que temos a perder? O coração? O coração não se perde, o coração não se parte! Se resultar, resultou, senão paciência, tentámos! Até onde podemos ir na nossa conquista? Será que tem que haver limites? (Respeitando sempre, claro, as decisões alheias.) Se tentássemos mais, provavelmente, teríamos grandes surpresas.
Ouço muita gente dizer: “mas eu quero, eu estou disponível”, mas a verdade é que esperam relações perfeitas e príncipes encantados. Não admitem que os outros possam ter defeitos, fragilidades. Querem ser amados mas será que amam?! Será que se entregam? Há pouco tempo alguém me dizia que só se entregava se sentisse do outro lado amor, segurança, mas se a outra pessoa não sente entrega, é evidente que também não se entrega! E assim se estraga mais uma potencial boa oportunidade!
Somos emocionalmente muito imaturos… seria bom que amadurecêssemos antes dos 70.
É inegável, a sensação de estarmos apaixonados, a intensidade do amor que por vezes sentimos é extraordinária e arrebatadora. Esta força faz-nos sentir vivos, maiores, melhores. Sorrimos por tudo e por nada. Tudo parece mais fácil, mais sublime… Acreditamos, voltamos a acreditar na vida, no intangível milagre da vida.
Independente do futuro, amar vale a pena por si mesmo. Vai dar certo, não vai dar certo? Não importa, importa amar, importa transmitir isso ao outro, importa fazê-lo sentir isso. Será que os outros sentem o nosso amor? Isso também não importa… ou será que importa?
Perguntam-me; e então a dor que se sente quando não estamos juntos?
Sim, é doloroso… a saudade pode ser terrível, mas vale a pena agarrarmo-nos aos momentos que estivemos juntos e aqueles que vamos ter no futuro. De que adianta massacrarmo-nos? Só estragamos o momento, a linda vibração.
Será que sabemos amar? Será que as nossas dependências e medos emocionais deixam que amemos em liberdade? Será que sabemos o que é a liberdade? Amor e Liberdade parecem inconciliáveis mas é exactamente o oposto. Não podemos amar sem sermos livres e mais ainda, sem deixarmos os nossos companheiros viverem a vida como querem. Custa discordar? Custa vê-los bater com a cabeça na parede e fazer asneiras que a nós nos parecem escusadas? Custa horrores, mas temos que respeitar.
Acima de tudo devemos aproveitar cada oportunidade que a vida nos dá para amarmos. Há quem não tenha tido sequer essa chance…
Amar requer entrega? Sim, e depois? O que é que nos pode acontecer? Perder o companheiro? Pois, pode acontecer. O que fazer? Suportar a dor da perda, tentar compreender, aceitar e continuar a acreditar. Se nós continuarmos a acreditar, outro milagre surge na nossa vida. Sim, porque apaixonar-nos é um milagre que tem que ser vivido. Apesar de tudo vale a pena amar!