A fé consciente é liberdade.
A fé instintiva é escravidão.
A fé mecânica é loucura.
A esperança consciente é força.
A esperança emocional é covardia.
A esperança mecânica é doença.
O amor consciente desperta o amor.
O amor emocional desperta o inesperado.
O amor mecânico desperta o ódio.
Cada vez que vou ao Brasil surpreendo-me com o que vejo. Lembro-me da primeira vez que pisei o Rio de Janeiro estava instalada a polémica por causa de um outdoor de uma revista masculina que, claro, tinha uma “garota pelada” na capa. E eis que, para minha surpresa, taparam com uma faixa preta o bumbum da mocinha! Que raio, pensei eu, não estou no Brasil, país da liberdade e do culto do corpo?! Ou seja, hipocrisia existe em todo o lado.
Desta vez deparei-me com outra realidade que me impressionou bastante, acho que posso dizer até que me chocou: a intolerância religiosa.
A batalha entre os “crentes” – igreja evangélica (penso que seja essa a designação correcta. Será que eles próprios sabem?) - e os “macumbeiros” – umbanda e candomblé - está instalada. Há noticias de actos de vandalismo praticado pelos tais “crentes” quase que semanalmente. Os evangélicos ganharam terreno de forma incrível. As igrejas (?) são aos pontapés, em cada esquina há uma sala, a que chamam igreja ou templo, e os pastores são incontáveis. Começou por ser, maioritariamente, uma facção religiosa de classe muito baixa, mas agora já não é assim. Políticos, actores, gente com influência em geral, converteu-se à igreja evangélica.
Curiosa como sou, perguntei a opinião a algumas pessoas esclarecidas acerca deste fenómeno, deste crescimento não só em termos de número como em qualidade de “adeptos”. “Os políticos converteram-se por razões politicas. Como o povo é evangélico eles para ganhar votos converteram-se também.” Responderam-me eles. Boa razão para mudar de religião!
Aquilo que consegui compreender - porque quis saber o que tinha de tão apelativo a nova doutrina (?) como estudante de Teosofia que sou -, é que o discurso se baseia na total desresponsabilização das pessoas relativamente à vida delas. Qualquer erro, qualquer desgraça, qualquer “pecado” que tenham feito se deve… ao demónio! E a culpa por norma é dos “macumbeiros” e respectivas “macumbas”, dizem eles. Ora, que fácil é viver assim! Pronto, descobri o porque da popularidade!
A coisa é de tal maneira que os autocolantes nos vidros traseiros dos carros são no mínimo hilariantes, entre eles o que mais de chocou foi: Deus é fiel.
Vos digo que se me encarquilharam as unhas dos pés com tal escrito!!! Senti uma afronta tal que foi difícil de disfarçar. Como já devem ter notado, eu tenho uma fé inabalável em Deus/a, no Cosmos, no Grande Arquitecto, na Força, no que seja que queiramos chamar, e portanto, a minha lealdade – que nada tem a ver com determinismo nem com fanatismos nem com desresponsabilidade, porque sempre assumi os meus erros e fracassos – é quase inquestionável. Perante isto ao ler que DEUS ERA-LHES FIEL fiquei doente. Que presunção! Que petulância! Que ignorância! Deus é que lhes é fiel?!? Benza-me Deus!
Atenção, isto tudo não quer dizer que não haja gente muito boa no meio dessa grande confusão, claro que sim, assim como percebo de alguma forma o medo – porque é de medo que se trata – que eles têm da gente do candomblé. Há práticas horrendas de manipulações energéticas feitas por alguns “pais e mães de santo”. Sabemos disso, mas generalizar é sinónimo de pobreza de espírito e estreiteza mental!
Tenho o privilégio de conhecer praticantes de Umbanda que são simplesmente como família para mim, gente que amo e respeito profundamente. E coincidentemente ou não, estava no Rio na altura do centenário do nascimento da Umbanda – que nasceu no Brasil. Fui convidada e claro que aceitei o convite com muito prazer. Conheci gente linda, muito honesta, que transpirava bondade e compaixão.
Claro que na Umbanda também há gente desonrosa que se serve do poder (?) que tem para ludibriar os menos esclarecidos, é evidente e sempre lamentável.
Mas a minha questão tem a ver com a intolerância que se vive naquele país. Sempre houve no Brasil uma liberdade religiosa invejável, mas agora, os assaltos, físicos e verbais, a centros e terreiros de umbanda e de candomblé são imensos. O que se passa? Andaram para trás no tempo, na mentalidade?
Soube que se estavam a organizar marchas contra a intolerância e a discriminação religiosa em todo o país. Esperemos que estas medidas sejam suficientes para travar esta iminente guerra que tende a estalar a qualquer momento. Eu sei que tudo está como tem que estar, mas ficaria muito triste se a situação se agravasse… Seja o que Deus/a quiser.